25.7.16

DESCENDENTE JAPONESES

Achei este pequenao manual para nao ofender seu amigo ou conhecido descendente de japoneses. E resolvi publicar aqui.
Origem: https://www.facebook.com/tami.tahira/posts/1105971192775075

PEQUENO MANUAL EM 15 DICAS DE COMO NÃO OFENDER SEU AMIGO DESCENDENTE DE JAPONESES
Depois de reclamar do apelido de japa, ver que muites amigues se sentiram contemplades pela crítica e perceber que os não-nipônicos não nos apelidam por maldade, aqui vão algumas dicas bem DIDÁTICAS baseadas em dados históricos e no famoso bom-senso de como não dar esse e outros closes errados conosco:
1. Não apelide um oriental de "japa" sem ter qualquer consentimento dele acerca disso. Nossa identidade (aliás, a de ninguém) deve ser resumida somente a descendência étnico-racial. E a pessoa a quem você se refere pode ter descendência chinesa, coreana, etc.
2. Falando nisso, orientais NÃO SÃO TODOS IGUAIS. E você vai tomar um cuidado absurdo se resolver apontar as características físicas que diferenciam japoneses de coreanos e chineses: em 1945, 2ª Guerra Mundial rolando, o maior jornal em circulação da época fez uma matéria ilustrada ensinando a diferenciar um chinês de um japonês, descrevendo o japonês como alguém de "aspecto repulsivo, míope, insignificante". Não faça isso em 2016.
3. Não zombe do nome japonês do amiguinho fazendo trocadilho tosco ou com um sotaque que você imagina ser de oriental. Na época da Segunda Guerra, se instalou um repúdio pela paranoia de que qualquer descendente de japonês poderia ser um espião de guerra. No pós-guerra, com a terra natal devastada pela guerra, sem perspectivas de voltar, os pais decidiram preparar os filhos para a vida no Brasil, dando-lhes nomes ocidentais pra tentar uma aceitação melhor. Nosso nome nipônico é resistência a essa perseguição, você não vai tirar sarro disso. E se o nome for difícil, pergunte a pronúncia de novo e tenha em mente o item 1 dessa lista.
4. 82% dos descendentes no Brasil afirmaram que sabem falar um pouco da língua materna - então não precisa perguntar se a gente sabe japonês, a resposta provavelmente é sim, pergunta nosso filme preferido, sei lá, mas nós somos mais interessantes que isso. E se a gente disser que não sabe falar japonês, como todo "não" recebido na vida, você respeita e não insiste.
5. Não ria do descendente que tem dificuldades com o português. A assimilação do idioma pros japoneses foi mais difícil até que a dos alemães e russos.
6. Não ria do descendente que tem sotaque nordestino. Além de ser duplamente xenofóbico, não faz sentido achar graça em algo que você acha que é """"exótico e improvável"""" sendo que a terceira maior quantidade de descendentes de japoneses no Brasil é a de Pernambuco (seguida pela da Bahia).
7. Não pergunte se a gente mora no bairro da Liberdade como se esse fosse o único espaço que nós podemos ocupar. Hoje a Liberdade tem cada vez mais influência coreana e chinesa e os munincípios com maior número de nipônicos são Mogi das Cruzes, Osvaldo Cruz e Bastos.
8. A gente não enxerga """"achatado"""" por causa do olho puxado.
9. Não grave uma música assim, cê exotiza uma cultura só porque ela é diferente, reforça esteriótipos e ainda paga um micão: https://www.youtube.com/watch?v=LiaYDPRedWQ
10. Não fica especulando o tamanho do pênis do seu amigo japonês. APENAS NÃO, para de alimentar o ego da sua masculinidade frágil com isso.
11. Você vai parar AGORA de fetichizar mina japonesa. Vamos abrir um parenteses pro feminismo nesse item:
A opressão que uma mina japonesa sofre é diferente (não tô falando que é melhor ou pior, só que é diferente) porque ela é dicotômica - ou a mina é hipersexualizada como se vê na maioria das formas de manifestação da cultura pop japonesa (animes, mangás, etc) ou ela é o máximo do bela, recatada e do lar, nos moldes mais tradicionais japoneses. Ela tem que ter uma bunda e um busto enormes contrastando com uma cintura finíssima e ser a dreamgirl lolita de qualquer cara, que acha que pode controlar a mina igual uma personagem de videogame ou tem que ser completamente submissa a família e seus dogmas tradicionais. Por trás desse fetiche, tem o desejo doentio de poder e controle sobre esssas minas que sempre tiveram as próprias vontades suprimidas, sem contar a hipersexualização e romantização da lolita - sentir atração sexual por minas com aparência infantil não é saudável, vide pedofilia e efebofilia (atração por adolescentes).
Artigo pra se aprofundar (tá em inglês, calma que eu ainda vou achar um em português pra ficar mais acessível): https://asianamericansinmedia.wordpress.com/…/fever-dream-…/
12. Você não vai gongar seu amigo se a opção de curso dele fugir do padrão Engenharia-Medicina-Direito falando que "poxa, mas você tem o potencial nos genes! Ah, se eu fosse japonês...". Também lá pra época do pós-guerra, depois de ter bens confiscados no Estado Novo, sem perspectivas de retornar ao país de origem e buscando estabilidade financeira, japoneses faziam Engenharia por números serem mais acessíveis que português, e Med e Direito pelo prestígio, pela aceitação na sociedade apesar de serem japoneses. Teu migo que sai dessa tríade tá rompendo com uma tradição fortíssima da formação acadêmica dos japoneses, incentive-o, porque a família dele provavelmente não o fará.
13. Falando em família...
A cultura nipônica louva o respeito aos mais velhos e a noção de honra. Isso é lindo até os jovens não terem a menor voz num ambiente familiar dogmático e surgir uma organização terrorista nipo-brasileira que assassinava nipo-brasileiros que acreditavam na derrota do Japão em 1945 (derrota seria uma perda da honra - e sim, isso existiu no Brasil pós-guerra). Essa tradição é de uma pressão estrutural da nossa cultura que os não-nipônicos não tem. Em breves exemplos: uma nota baixa não é punida com o castigo de 1 semana sem televisão, e sim com a renegação do afeto, já que seria um prejuízo a honra; um jovem com depressão, que não consegue sequer levantar da cama por causa dela, não vai ser amparado, vai apenas ser visto como indisciplinado. Essa perfeição nos é exigida desde pequenos, é difícil criar laços emocionais quando nossas primeiras referências (pais, avós) só fazem o papel de disciplinadores, renegando reciprocidade ao menor sinal de falha; é difícil se expressar emocionalmente, porque somos ensinados a pensar principalmente lógica e sistematicamente. O isolamento é uma prática absurdamente presente no Japão. Não que isso não aconteça com não-nipônicos e nem que toda família nipônica seja obrigatoriamente assim, mas a manutenção dessas atitudes são frequentes na nossa cultura. Não à toa, o Japão é o sétimo país com maior número de suicídios no mundo (que são vistos como atos de honra e não pecados igual o catolicismo prega) - e é intuitivo pensar que isso possa se estender as comunidades nipônicas no Brasil (já teve aluno descendente de japoneses do meu colégio pensando em suicídio no SEXTO ANO).
OU SEJA
não faça um escândalo por tirar uma nota maior que teu amigo japonês tido como o suprassumo da inteligência, não ria se ele não entrou direto na USP ou no ITA, não destrua a auto-estima dele, porque alguém na família já tem todo o potencial cultural pra fazê-lo.
14. E não, minha avó não é a Tomie Ohtake, o japonês da federal não é meu parente nem a Sabrina Sato - eu não vou te perguntar se Dom Sebastião era da sua família, então por que cê tá fazendo essas perguntas pra mim?
15. Por último, nós NÃO SOMOS BRANCOS.
Sim, desfrutamos da esmagadora maioria dos privilégios que os brancos tem - não vamos ser baleados pela PM porque andamos na rua com um saco de pipoca na mão e não somos uma minoria étnica que tá sofrendo um genocídio sem destaque na mídia promovido por latifundiários, mas os próprios brancos já deixaram bem claro que não somos como eles.
Em 1933 médicos sanitaristas chegaram a pedir o fim da imigração de japoneses em prol da eugenia racial pra embranquecer a população brasileira. O regime de cotas de imigração, que previa um limite para a entrada de japoneses, durou até 1980 e, apesar de em lei ser aplicado a italianos e espanhóis, não os afetou tanto quanto aos japoneses. No Estado Novo, imigrantes tiveram seus bens confiscados, na Segunda Guerra, foram presos e expulsos do país acusados de espionagem. Na Constituição de 1946, por apenas 1 voto de diferença, a emenda 3165 que proibia a imigração de japoneses ao Brasil e institucionaria a xenofobia antiniponista não passou. Defensores da imigração japonesa e organizações culturais, para reintegrar a comunidade ao Brasil, decidiram mostrar que japoneses poderiam gerar filhos tão "brancos" quanto o dos europeus financiando um álbum com fotos de homens japoneses e suas esposas brasileiras e filhos "brancos". E, pior, isso funcionou.
Não somos brancos - o que não nos impede de ter privilégios diante de outros grupos étnico-raciais e de oprimi-los (vide dona oriental de loja de acessórios impedindo uma negra de provar um turbante porque o "cabelo crespo dela estragaria o produto"). Mas não somos brancos, e é preciso ter isso em mente pra garantir que as nossas opressões particulares não sejam esquecidas.
OBS: quando eu digo "não ria do descendente com dificuldades com o português, não acabe com a auto-estima do teu amigo japonês" etc ceis entendem que é só porque isso é mais frequente conosco e que não é pra rir nem acabar com NINGUÉM independente de quem seja nessas situações né?
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[EDIT]: AMIGUES DESCENDENTES, se faltou alguma coisa ou ceis tem correções, deixa aí nos comentários que eu adiciono com um asterisco na lista, vamo construir isso aqui juntes <3 span="">
*16. Não somos TODOS obrigatoriamente envolvidos com a nossa cultura, então pare com os seguintes esteriótipos: porque é descendente de japonês, a pessoa sabe falar japonês/desenhar bem/curte anime, mangá e afins/faz origami/é boa em exatas/é boa em tudo/manja de fotografia/gosta de pescar/adora culinária japonesa
*17. PASTEL DE FLANGO JÁ DEU NÉ??
Não tem L na gramática japonesa, quem troca L e R são os chineses e nós não somos todos iguais, continua ofensivo pros chineses, piada desse tipo não é piada, é preconceito (aproveita pra parar com piada de judeu, loira, árabe...) tá tudo errado nisso aí
*18. Já é bem bosta andar na rua e ser objetificada por desconhecidos, aí vem o macho internacional poliglota intercâmbista da STB gritar SAYONARA pra mina oriental na rua achando que isso diminui o assédio. Assédio é assédio, pare
(e não tenta chegar nas minas mandando um "aishiteru" só porque a gente é descendente, tem mil formas, não apela pra isso).
*19. Não bota ator branco pra fazer papel de japonês, tem ator que, olha só, É japonês ou descendente, dá emprego e visibilidade pra ele - e não resume japonês ao papel do amigo nerd, do programador salvador do filme, do CEO frígido, do dono do restaurante preferido do casal protagonista... menos esteriótipo e mais representatividade

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